Clara Averbuck http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br Divagações e conjecturações sobre comportamento, sociedade, mídia, o universo e tudo mais. Mon, 11 Feb 2019 19:22:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A “loucura” e suas manifestações http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2019/02/11/a-loucura-e-suas-manifestacoes/ http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2019/02/11/a-loucura-e-suas-manifestacoes/#respond Mon, 11 Feb 2019 13:27:37 +0000 http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/?p=99

Tenho pensado muito sobre a “loucura” e como ela se manifesta.

Às vezes, se não pela arte, pode virar surto de violência, autoflagelo, punição para si e para quem está ao redor. É muito difícil. É uma luta viver com psico atípicos, especialmente com os que se recusam a tratar, ainda que de forma alternativa (ninguém  aqui quer embotar a pessoa de remédio pra que ela não “encha o saco”, como é o caso de muitas famílias que preferem se “livrar do problema”).

Eu já afastei todo mundo que eu amava numa dessas fases, há uns 10 anos, e digo com toda a certeza: muita coisa ajuda, meditação, cuidar do Ori, conversar com amigos, mas é irresponsável achar que há solução mágica. Se o problema é clínico, assim deve ser tratado.

Existem médicos maravilhosos (existe também um complô da indústria farmacêutica com médicos horríveis, há que se tomar cuidado) mas o acompanhamento é necessário. De novo, não é fácil. Existem médicos acessíveis e éticos, mas não é fácil, nada é fácil e eu, que já passei por fases trevosas, estou aqui buscando uma solução, um equilíbrio. Lendo sobre manicômios só consigo sentir mais ojeriza sobre essa maneira de tratar seres humanos.

Lendo sobre tratamentos alternativos eu fico com minhas dúvidas. Sozinhos, são apenas paliativos. Eu sei que todas as pessoas, de todas as classes sociais, podem estar propensas a isso. Depressão, ansiedade, pânico, nada disso é “doença de rico” e estigmatizar isso só vai piorar tudo e afastar quem precisa de tratamento. Sejam responsáveis nessa época de “opiniões”. A sua pode influenciar alguém que precisa de ajuda a simplesmente não buscar (me refiro principalmente a homens, cujos quais a masculinidade tóxica pode impedir de buscar ajuda pois é “coisa de gente fraca”).

Se possível, assistam “Nise”, mulher que revolucionou o tratamento da “loucura” no Brasil.

E este documentário curto da Muriel Matahari, “Condenadas pela Razão. 

Por todas as pessoas enlouquecidas
Por todas as mulheres ‘enlouquecidas’ porque queriam escrever,
estudar, não casar, imagine,
viver sem ser posse de alguém,
criar.

Se cuidem. Cuidem dos seus. Os tempos estão horrorosos.

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Não basta estar no padrão de beleza, também tem que se comportar http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/12/17/nao-basta-estar-no-padrao-de-beleza-tambem-tem-que-se-comportar/ http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/12/17/nao-basta-estar-no-padrao-de-beleza-tambem-tem-que-se-comportar/#respond Mon, 17 Dec 2018 13:27:57 +0000 http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/?p=90 Minha mãe dizia: “não seja como as outras”. Demorei pra entender isso. Quando eu era jovem, personalizava e personificava isso em outras mulheres. Tinha poucas amigas. Queria andar com os meninos. Depois, entendi: não era sobre “as outras”, era sobre um modelo de comportamento pré concebido e que todas as mulheres deveriam seguir.

Se comportar.

Falar baixo.

Recato. Modos.

Olha os modos! Quantas vezes não ouvi isso?

Eu não tinha modos.

Quando eu era jovem, achava que estava completamente fora do padrão de beleza – e era o que eu ouvia. Não tinha traços delicados, não tinha a magreza esperada do padrão dos anos 90 (lembrando que o auge era o “heroin chic”, rótulo que hoje parece uma piada de mau gosto), não era loirinha, não era o que via nas propagandas, nos filmes, na tv, em todos os lugares. Hoje eu entendo que nossa, eu estou dentro sim,  mas a pressão estética, que é ainda pior no Rio Grande do Sul, minha terra, onde cresci e aprendi que era inadequada, não me permitia ver isso.

O simples fato de ser bocuda já me fazia inadequada.

E, com o passar do tempo, fui entendendo que era muito mais sobre padrão de comportamento do que padrão de beleza.

Simplesmente porque nunca está bom se você é uma mulher.

Se está fora do padrão de beleza, vão atacar sua aparência, independentemente do que diga.

Se estiver no padrão de beleza, mas fora do padrão de comportamento, vão atacar qualquer coisa que diga ou faça usando sua vida sexual, sua “falta de modos”, enfim, qualquer coisa.

Se estiver dentro de ambos, vão cobrar que tenha a paciência de uma professora do primário e seja só sorrisos e doçura.

Nunca vai estar bom.

Então, mulher: relaxa. Não dá pra viver em função de agradar esse mundo impossível.

Não deixe de falar o que pensa por medo de represálias ou de chacota.

 

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Se todas as ex dele são loucas, você vai ser a próxima http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/12/07/se-todas-as-ex-dele-sao-loucas-voce-vai-ser-a-proxima/ http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/12/07/se-todas-as-ex-dele-sao-loucas-voce-vai-ser-a-proxima/#respond Fri, 07 Dec 2018 18:34:43 +0000 http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/?p=84 Você conhece aquele rapaz. Ele parece ótimo, atencioso, engraçado, maravilhoso. Bom demais pra ser verdade, até. Mas tem uma curiosidade sobre ele: pelo que conta, só namorou mulheres loucas. Todas as ex são loucas, menina! Que coisa.

Que coisa.

Algo que aprendi nessa vida: se parece bom demais para ser verdade, provavelmente é.

É constante o  fabuloso mistério do cara inocente e são que só se relaciona com mulher louca.

Felizmente e graças ao feminismo, muitas mulheres começaram a conversar entre si e sobre isso. As mesmas mulheres que, num passado recente, se veriam como rivais e possivelmente se .odiariam, passaram a buscar umas nas outras respostas para situações recorrentes e questões que, antes, pareciam vergonhosas e exclusivas delas, mas são comuns a muitas de nós.  Os homens  (nem todo homem etc e se você, homem, não se identifica com esse padrão, não precisa bater no peito e nem se pronunciar, posto que está fazendo o mínimo) ainda não se tocaram que as mulheres, agora, se comunicam e batem os comportamentos deles, que se repetem mil vezes, com uma, duas, três quatro cinco mulheres em série.

Mulheres, ESCUTEM OUTRAS MULHERES. Isso é com vocês. A gente avisa, mas não pode salvar ninguém.

Eu sei que quando tem sentimento envolvido é duro de acreditar em outra mulher, mas se o cara:

  • Fala que vocês só brigam porque “você não obedece” e “não fica boazinha”, FOGE.
  • Começa te chamar de burra, de incapaz, de incompetente, mesmo não entendendo porra nenhuma sobre o que você faz, e infere que “se não fosse ele, ninguém te aguentaria”, FOGE
  • Começa a criticar seu corpo, te comparar com outras mulheres, dizer como você deveria ser, FOGE
  • Quer te convencer a fazer ménage com outra mesmo que você seja hétero, pois esse é um fetiche DELE e VOCÊ tem a OBRIGAÇÃO de satisfazê-lo, FOGE
  • Te chama de louca toda vez que te leva ao limite e você perde as estribeiras, FOGE.

Isso tem até nome, e é o famoso gaslighting. Te chama tanto de louca que você acaba acreditando ou enlouquecendo de verdade.

Boazinha é o cacete. Boazinha é a passiva, a que obedece, a que se submete? Então não vai ter boazinha, não vai ter bela, recatada e do lar.

Se todas as ex são “loucas”, você certamente é a próxima.

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Sílvio Santos não está “gagá”, está exercendo seus privilégios http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/11/12/silvio-santos-nao-esta-gaga-esta-exercendo-seus-privilegios/ http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/11/12/silvio-santos-nao-esta-gaga-esta-exercendo-seus-privilegios/#respond Mon, 12 Nov 2018 18:58:46 +0000 http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/?p=81 Após o episódio vergonhoso protagonizado por Sílvio Santos durante o Teleton, no qual ele, sem um pingo de constrangimento, assedia a cantora Claudia Leitte, que ainda tenta ser elegante, mas fica visivelmente constrangida, não demorou para culparem a idade de Silvio pela atitude. Velho, né? Vai mudar a cabeça de velho?

 

É curioso como alguns homens têm esse privilégio da não responsabilidade por suas palavras e atos. É curioso também como, dependendo de onde esse homem vem, deve responder por seus atos até com cadeia. Não é isso o argumento da redução da maioridade penal? Que pessoas de 16 anos já respondem por seus atos? E as garotas abusadas que constantemente são responsabilizadas por estarem usando a roupa “errada”, pedindo, frequentando bailes? Para esses não há perdão.

Para os ricos e os brancos, os detentores dos maiores privilégios, sempre há uma desculpa, sempre “não é bem assim”, sempre passam um pano.

Já chega.

Não dá pra tolerar show de misoginia em rede nacional, em nenhum lugar.

Não podemos deixar com que esses e outros se sintam confortáveis em seu trono de poder estrutural para assediar mulheres, para constranger mulheres, para constranger geral.

Agora, mais do que nunca: mexeu com uma, mexeu com todas. E quando digo todas, não me refiro apenas a cantora branca e famosa, que também é cheia de privilégios. Todas as que forem vitimadas por esse pensamento misógino de que a mulher é um objeto, uma não pessoa, alguém que pode ser constrangido. Pode ser o Silvio, seu avô, professor, pai, tio, vizinho, a porcaria do presidente que elegeram. Não importa quem.

Chega.

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Atenção: política não é reality show http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/11/09/politica-nao-e-reality-show/ http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/11/09/politica-nao-e-reality-show/#respond Fri, 09 Nov 2018 15:00:05 +0000 http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/?p=70

Depois de Bolsonaro ser eleito – um desastre, na minha opinião, a ponto de que os próprios eleitores já estão se arrependendo diante das escolhas de ministros corruptos, citados em processos, e daquele juiz que mandou prender o principal opositor de quem provavelmente já lhe havia prometido um cargo -, ainda estamos tendo que lidar com machistas e homofóbicos correndo soltinhos e se achando no direito de fazer piadas que nunca foram aceitáveis – mas eram toleradas há uns 30 anos. E agora ainda têm os absurdos saídos da boca do mais notório misógino eleito usando a expressão “torcer contra” o governo – sobre aqueles se opõem a ele.

Torcer contra.

Meus queridos, minhas queridas.

Um Governo Federal não é um time de futebol e uma eleição não é nem um programa de televisão onde o preferido é abraçado pela torcida na saída da casa e nem a Libertadores da América com um vencedor e um perdedor. Quando o futuro governante avisa que vai acabar com o Ministério do Esporte, com o Ministério da Cultura e botar um ponto final em qualquer tipo de ativismo, ele já deixa claro a que veio. Eu não sei se me espanto mais com seus eleitores surpresos porque ele vai cumprir o que prometeu ou com os eleitores surpresos com o que todo mundo avisou que ia acontecer: truqueria, gente corrupta, a boa e velha… velha política. Tão velha que não param de aparecer piadas com 1964. Não vejo graça alguma.

O saco encheu legal nos últimos anos. Ser feminista é um trabalho de Sísifo, como diz a escritora Aline Valek, e passar os dias explicando as mesmas coisas já me exauriu bem. Sim, eu sei que ninguém nasce sabendo das coisas. Eu não sabia e já falei muita besteira acerca de temas que não conhecia direito, mas essa prática, a de falar sem saber, parece ter se popularizado muito e agora todas as pessoas repetem como papagaios coisas que leem em comentários de facebook e notícias sem fonte no whatsapp.

Que lástima.

O próprio marketeiro do Trump, migo e apoiador do Biroliro, já deixou claro que as pessoas não sabem diferenciar política entretenimento, o que é, para eles todos, uma grande vantagem: torcendo como se fossem parte de um time vencedor, quem não tem muita ligação com política se sente “parte” de algo, sem nem se preocupar em saber as reais consequências de um governo que vai afetar as vidas de todas – todas – as pessoas.

Minha impressão é que vivemos em bolhas de alucinação coletiva, variando entre mãos rezando para “endireitar” o Brasil, gente rindo kkkkkk e bradando “CHORA” sem nem notar que vão chorar também, Alexandre Frota dando pitaco sobre educação, gente falando em “ideologia de gênero” quando se trata de direitos básicos de gays, trans, travestis mas sem questionar a cultura que impõe que todo mundo nasce heterossexual e se identifica com o gênero registrado em suas certidões, que bate no peito por aí pra dizer que omi é omi e mulé e mulé, que é tão violenta que faz o Brasil ser o país que mais assassina LGBTs no MUNDO.

E aí vem essa face do mal dizer que gays querem “privilégios”. Qual privilégio? De se manter vivo? Realmente, que grande privilégio.

E aí vem o outro falar em botar polícia pra controlar escolas. Que porra é essa? Que ano é hoje? Quem são essas pessoas?

Se antes mesmo de assumir a presidência já estamos vivendo nesse tsunami de chorume e arrependimento, dá pra imaginar o que vai acontecer a partir de janeiro.

Que lástima, que mal estar, que força vamos ter que ter.

E não, nós não vamos embora. Não, não vai ter “ame-o ou deixe-o”.

Só deixa quem pode ir pra Miami, né?

Eu vou dar uma descansada, cuidar de mim, da cabeça, do corpo, dos meus, e sugiro que façam o mesmo. Agora não vai adiantar ficar caindo na espiral de medo. Sugiro que você, que me lê, faça o mesmo. Vamos precisar de força e sanidade, além de estratégias, mas, enquanto não soubermos ao certo o que está por vir, apesar de termos uma boa (péssima) noção, vai ser apenas energia desperdiçada.

Força e sanidade para todos, então, pois de loucura já bastou esse processo eleitoral bizarro.

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Como Bolsonaro virou o avatar do ódio http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/10/18/o-avatar-do-odio/ http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/10/18/o-avatar-do-odio/#respond Thu, 18 Oct 2018 17:10:32 +0000 http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/?p=56 Não param de pipocar notícias e relatos de violências cometidas em nome daquele candidato que faz arminha com os dedos e incita seu eleitorado a “metralhar” os oponentes.

Um, dois, três. Dezenas. Quiçá centenas. Chegando cada vez mais perto. Uma travesti foi assassinada ao lado da casa de uma das minhas melhores amigas aos gritos de “Bolsonaro”. Inúmeros, eu disse inúmeros relatos de mulheres e casais gays ouvindo na rua que “quando o mito for eleito isso vai acabar”. Ontem uma amiga foi agredida verbalmente no trânsito por um taxista que afirmou que agora, com Bolsonaro, as mulheres vão voltar pra cozinha. Uma menina teve seu corpo marcado com uma suástica porque usava um adesivo “ele não” – e desistiu da denúncia, possivelmente por medo, e ainda teve que lidar com um delegado disse que não, não era uma suástica, era um símbolo budista de paz e amor, porque é claro que isso faz muito sentido. Meu pai de santo, o Babalorixá Rodney de Oxóssi, vestido em seus trajes de Babalorixá, teve que lidar com um desses sujeitos gritando o nome daquele capitão paraquedista tal qual uma ameaça enquanto simplesmente andava na rua.

O próprio nome virou uma ameaça.

Quando uma dessas pessoas se sente na liberdade e no direito de enfiar a cabeça pra fora de um carro e gritar o nome de seu candidato que incita ódio contra as minorias, é uma ameaça.

“O Bolsonaro vai acabar com isso” não significa que ele, pessoalmente, vai agredir cada uma dessas pessoas, cada grupo ameaçado, cada casal que sai de mãos dadas exercendo nada além de seu direito de existir. Significa que seus soldadinhos manipulados por notícias falsas e pagas espalhadas pelo whatsapp já estão a postos para fazer o que bem entenderem em nome dele.

Em nome dele.

Não é o Bolsonaro que vai fazer. É quem já carregava esse ódio e agora se sente livre para torná-lo violência real. Para matar. Espancar. Agredir.

Em nome dele.

Que diz não ter nada a ver com a violência que seus eleitores fanáticos cometem. O que ele poderia fazer, não é mesmo? Diz que lamenta, mas culpa “o outro lado”. O que eu tenho a ver, pergunta ele?

Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre, ele disse. Em público. Sem constrangimento. Mas não tem nada a ver com a violência, é claro. A culpa é sempre dos outros.

Discurso de ódio vira ação. E ação é violência verbal e física, sangue, morte, horror.

Bolsonaro, tal qual o “heroi” do jogo em que seu personagem mata gays, negros e feministas, virou o avatar do ódio de quem já não tolerava os avanços das ditas minorias, que ele afirma também jamais ter atacado.

Bom, eis as palavras dele:

Como se isso não bastasse,

como se discurso de ódio não fosse o suficiente,

como se mentir descaradamente não fosse o suficiente,

como se homenagear um torturador não fosse o suficiente,

como se 28 anos como deputado ineficiente não fosse o suficiente,

agora temos a confirmação do que já se especulava: a campanha de Bolsonaro repleta de mentiras, as fake news que ele tanto diz serem as verdades comprovadas contra ele. Bancada por empresas, o foco era disparar mensagens contra Haddad e seu partido, espalhando a desinformação e manipulando os eleitores.

Jair Bolsonaro está tirando com a minha cara, com a sua, com a da democracia, com as leis que ele tanto diz que precisam ser seguidas e, principalmente, com os próprios eleitores desavisados. É esse o cara que vai “limpar” o país? É esse o cara que repudia corrupção? Não há posicionamento político esclarecido, não há anti petismo hidrofóbico que justifique o voto nesse homem.

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Nem um passo para trás http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/10/10/nem-um-passo-para-tras/ http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/10/10/nem-um-passo-para-tras/#respond Wed, 10 Oct 2018 23:03:57 +0000 http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/?p=44

Eu estou exausta.
Eu e quase todas as mulheres que conheço, pra não dizer todas.

Nasci em 79. Meus pais são artistas e sempre foram muito posicionados politicamente. Lembro do movimento das diretas e lembro do impeachment do Collor, quando saí pela primeira vez às ruas, achando que estava arrasando, com a cara pintada e sede de uma justiça que nunca veio. Lembro dos showmícios e da ideia incrível de um país onde todos pudessem ter oportunidade.

Lembro do meu pai tocando em showmícios. Lembro do clima sério, firme, mas carregado de esperança. Estávamos saindo de uma ditadura militar onde pessoas como meu pai, artistas, músicos, escritores, pensadores e políticos tinham suas liberdades cerceadas, suas obras censuradas, algumas de suas vidas tiradas, e, vendo aquele movimento, parecia mesmo que aquilo tinha chegado ao fim.

Naquela época eu ainda não escrevia. Ou melhor, escrevia uns poemas de amor bobos para garotos igualmente bobos da minha classe, mas, um tempo depois, minha consciência foi despertando. Quer dizer, eu nunca deixei de escrever sobre amor, mas outras coisas, como liberdade, identidade e autonomia foram se tornando mais urgentes e importantes.
E tudo isso é político. Eu só fui entender mais tarde, depois de já ter escrito sobre essa trindade, liberdade, identidade e autonomia, que sem democracia não dá pra exercer plenamente nenhuma das três.

À medida que fui crescendo, fui me afastando do que eu achava que era a política. Mal sabia eu que estive sempre, sim, fazendo política, já que toda regra que você quebra, todo padrão que você peita, toda voz que você levanta contra as opressões é, sim, política. Tudo é político quando você é uma mulher. Querer andar na rua em paz e sem assédio, reivindicar direitos sexuais e reprodutivos, ter nosso trabalho valorizado, respeitado e pago igualmente e poder ser a mulher que quiser fora do conjunto de regras que nos é apresentado, tudo isso é político.

Eu não sabia o que era papel pré definido de gênero, mas sempre me revoltou ter “coisa de mulher” e “coisa de homem”. Eu sabia o que era machismo porque sou gaúcha e basta ser mulher e estar lá pra sentir isso na pele, mas não sabia que eu mesma reproduzia conceitos machistas. Eu não sabia o que era opressão, mas toda injustiça contra indivíduos ou grupos fragilizado sempre me despertou uma imensa raiva e me deixou com lágrimas nos olhos.

E depois com sangue nos olhos, quando fui aprendendo e me dando conta de que estava, estávamos longe, nós, mulheres, de viver plenamente. Foi quando descobri o feminismo e tudo começou a fazer sentido. As coisas que aconteciam e eu não sabia explicar, as vezes que tentaram me calar ou me ignorar e eu achava que fosse pessoal, as vezes que meu trabalho foi diminuído pelo seu teor e sua matéria prima quando ué, alguns dos maiores escritores trabalhavam assim, por que eu não poderia?

Foi maravilhoso. E horrível. Maravilhoso porque as coisas finalmente faziam sentido, era como se uma névoa tivesse se dissipado das minhas vistas e eu podia enxergar com a clareza que sempre almejei. E horrível, porque, ao finalmente enxergar, não era nada bonito o que tinha pra ver.

Não era bonito e precisava ser mudado. Conversando com outras mulheres e escrevendo para elas fui descobrindo que era esse o caminho: escutar e ser escutada, trocar experiências e ver que estávamos todas no mesmo barco. E pior, esse barco tinha andares de privilégios. Eu sou branca, afinal, e tenho, sim, privilégio de não sofrer racismo aliado ao machismo que já sofro. As mulheres negras sofrem essa dupla opressão. E com elas eu fui aprendendo mais e mais.

Nos últimos anos parecia que não era possível nos parar. Mesmo com um golpe misógino, mesmo com tantos retrocessos, mesmo diante de adversidades mil, ninguém podia calar nossa voz. Não existe mais como. Muito menos a voz das próximas gerações. Os movimentos, as passeatas, a mudança sutil nas representações na dramaturgia, até um certo esvaziamento das nossas pautas pela publicidade usando palavras de ordem pra vender batom, tudo parecia mesmo não ter volta.

Mas eles, os conservadores, os detentores do poderzinho, os misóginos incorrigíveis, eles jamais foram tocados por isso ou tiveram abaladas suas certezas caquéticas e rançosas de que mulheres são fracas, inferiores, que a nós cabe apenas um cercadinho na existência, o da mulher correta, que anda na linha e jamais contesta.

Essa espécie tosca de homem, impregnada de masculinidade tóxica e frágil, tão frágil que treme ao ver homens que não seguem a cartilha do heterossexual, treme tanto que faz questão de mandar um “abraço hetero” porque imagina ser confundido com um viadinho capaz de estar em contato com suas emoções sem que sua macheza esteja em jogo, tão frágil que só consegue existir através da truculência e da violência, tão frágil que se sente ameaçada diante da existência de qualquer coisa que difira deles.
Eu estou exausta, e exaustas estão as mulheres à minha volta na tentativa de entender e explicar o inexplicável. Como, como um misógino assumido, um homenzinho desprezível, um ser abjeto que tripudia da nossa cara e de qualquer valor democrático, um racista, um classista, um homofóbico assumido, um homem que fala que não vai estuprar uma mulher porque ela é “feia” e não merece (as “bonitas” merecem, então?), um sujeito que animaliza pessoas negras calculando seu peso em arrobas e dizendo que não servem nem pra procriar, que afirma que seu filho não namoraria uma negra porque não vive num ambiente de promiscuidade e que preferia ter um filho morto do que “namorando um bigodudo”, que tentou tirar o direito de trans e de travestis de usarem seus nomes sociais, um homem que, por todos os santos, homenageia um TORTURADOR em plena câmara dos deputados, que se diz a favor da tortura, da pena de morte, de bater em crianças “meio viadinhas”, como se orientação sexual pudesse ser corrigida, um homem que fez nada além de enriquecer em 28 anos como deputado, COMO essa pessoa está concorrendo à presidência da república? E ganhando?

E como existem mulheres apoiando essa aberração? Como eu já disse, nenhuma mulher está livre do machismo e, infelizmente, algumas só vão aprender quando passarem por situações vexamosas, e vai acontecer, infelizmente, vai acontecer. Não porque o candidato, pessoalmente, vai ofendê-las ou agredi-las. Quer dizer, pode ser que aconteça. Mas certamente vai acontecer no dia a dia porque todo o misógino, todo homem que odeia mulheres independentes saiu da toca e não tem vergonha nenhuma de exercer seu machismo a plenos pulmões e colocar pra fora o que realmente acham, sem verniz algum, assim como todo racista, todo homofóbico, todo o intolerante.

E não venham falar que NÓS temos que ser tolerantes com intolerância. Se o seu discurso e sua ação ameaçam minha liberdade e minha integridade, se comprometem a minha existência, como é que eu vou ser “tolerante”? Seria tola. Idiota. Não sou cristã pra oferecer sequer uma face, muito menos a outra.

Estamos exaustas.

Mas não vamos chorar. Não estamos chorando. Não estamos nos curvando ao macho de 1930. Ele sendo eleito ou não, não tem essa de “aceita que dói menos”. Aceitar o que? Ser diminuída? Aceitar que é correto ganhar menos do que um homem na mesma posição? Aceitar ser humilhada e categorizada? Não, não vai ter isso. Esse homem e seus reflexos são o suspiro final e furioso de um estereótipo, uma caricatura grotesca de macho que só serve a eles, que mal serve a eles. Não vai acabar o feminismo e muito menos “qualquer tipo de ativismo”, como ele afirmou em seu pronunciamento.

Vai crescer. Vai aumentar. Vai ter que ser assim.
E difícil ter forças, mas temos que ter, sim. Precisamos. Não podemos derreter em nossas cadeiras com o celular na mão enquanto notícias desalentadoras rolam na tela. Precisamos resistir, blindar nossas almas, não nos deixar violar por essa nuvem de ódio que assola este país. Hoje mesmo eu vi um homem dentro de um carrão gritar para uma mulher negra que pedia trocados sentada na porta de um mercado: AQUI É SALNORABO! Assim mesmo, na rua. Anteontem o Mestre Moa do Katendê foi assassinado por dizer que votaria no Haddad, e não foi por acaso, foi um homem negro, mestre de capoeira, ligado a suas raízes. É muito específico. Quem você acha que vai perder mais? Quem você acha que vai apanhar mais, morrer mais? Na escola dos irmãos da minha filha teve uma eleição como exercício e o mais novo, que não se deixou acuar e “votou” no Haddad, foi perseguido e ameaçado por outras crianças de SETE anos. “Você vai morrer”, eles diziam. Sete anos. Não param de pipocar relatos de homofobia, de violências de todos os tipos contra cometidas por eleitores daquele candidato e em nome dele. Sempre o nome dele é evocado: ele vai acabar com vocês, ele vai acabar com vocês, ele vai matar vocês para justificar que quem quer nos matar são eles mesmos.

Nós precisamos sobreviver, estamos usando nossas forças para isso. É muito custoso. Por isso estamos tão cansados, tão cansadas. Explicar o inexplicável nos deixa assim. Mas precisamos vencer esse medo e virar esse jogo. Não apenas o jogo político, mas o jogo da existência. Da resistência. As minorias são a maioria, afinal. Precisamos nos cuidar. Não nos deixar afogar pelas notícias. Não abrir mão dos prazeres cotidianos, do amor, do sexo, da arte, do espírito e do corpo. Eu sei que é difícil quando até sair na rua se torna perigoso. Mas vamos fazer o que? Sucumbir ao medo? Viver na clausura e deixar com que as trevas tomem conta? Não vai ser assim, não vai ter isso, somos muitos, estamos juntos e não vamos deixar que nos transformem em fantasmas e roubem nosso direito de existir assim.

Estamos juntos, estamos juntas e vamos seguir assim. Nunca foi fácil, mas não chegamos até aqui e passamos o que passamos para retroceder. Lembrem disso.

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Top ou cadela? Nenhuma mulher está livre do machismo http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/09/25/politica-e-machismo/ http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/09/25/politica-e-machismo/#respond Tue, 25 Sep 2018 07:00:43 +0000 http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/?p=34

“E pras feministas, ração na tigela/As mina de direita são as top, as mais bela/Enquanto as esquerda tem mais pelo que as cadela”

Essa foi uma musiquinha entoada em uma manifestação pró aquele-candidato-cujo-nome-não-citarei. Usando “Baile de Favela” como referência. Queria que  fosse, mas não é fake news. E também não é “polêmica”. Polêmica é se o feijão deve vir por cima ou por baixo do arroz (por cima, evidentemente). Se é biscoito ou bolacha. Discurso misógino e machista não é polêmica, é ódio fantasiado do humor mais raso, mais babaca e também mais fácil.

Leia também: Quais as propostas do seu candidato para as mulheres? Veja todas aqui

E antes que alguma mulher, alguma leitora, ache que pode concordar com isso, pense duas vezes. Como disse a jornalista e minha amiga Milly Lacombe, o produto mais bem acabado do patriarcado é a mulher machista. E o machismo não tem alvos ideológicos. Se você é mulher, seja sua posição política qual for,  já é atingida por ele.

Não existe mulher perfeita

Nenhuma mulher está livre de julgamento. Nem a mais bela, recatada e do lar. Nem a “cinderela”. Um passo fora do cercadinho traçado e você já está desclassificada e desqualificada. Esse lugar, o da mulher perfeita, é uma falácia, posto que a mulher perfeita não existe; nunca vai estar bom. Essa “mulher perfeita” é uma boneca, alguém que não confronta, não pensa por si e apenas concorda. Não pode ser feminista, imagina, porque só por deus uma mulher que luta por direitos e enxerga as armadilhas do patriarcado. Não pode estar fora do padrão de beleza, não pode engordar, não pode, não pode, não pode falar se não for pra concordar. Caso se destaque demais na área em que trabalha, se trabalhar, porque a mulher perfeita também é cheia de privilégios como o de poder escolher ficar em casa sendo bancada, não pode ser assertiva, não pode ser combativa, tem que ser doce, sempre doce, sempre dócil.

Nada errado em ser dócil – quando não é um reflexo da opressão em forma de silêncio. Quando não é algo que exigem de você para que seu comportamento seja o aceitável e adequado, em detrimento ao das “feministas raivosas”. É claro que estamos com raiva. Falam em nos humilhar, nos matar, nos estuprar. Antes só falassem. E não estamos nos referindo apenas a feministas, viu? Quem ainda não percebeu que a mulher dentro dos padrões esperados de comportamento sofre violência e ainda é culpada por ela? Quantos feminicídios ditos “crimes passionais”, quantas mortes porque um homem com sua masculinidade violenta ferida “não aceitou o fim do relacionamento”? Quanta violência psicológica e verbal, quanta opressão patriarcal?

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Bolsonaro representa tudo isso. Ele claramente odeia mulheres. E o maior perigo, caso eleito, talvez não more nem nas políticas implementadas, posto que é deputado há 27 anos e aprovou apenas dois projetos inexpressivos de lei, mas no fato dele ser a personificação da misoginia e da homofobia, assim como do racismo e da transfobia, do discurso totalitário e assassino. Se tê-lo como figura política já encoraja indivíduos cheios de ódio a transformar seu discurso em prática, imaginem o que acontecerá se tivermos um presidente que transpira esse ódio, exalta torturadores e propaga violência em suas falas e ações.

Por isso que: ele não. Ele nunca. E dia 29, todas nas ruas.

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Sobre vulvas e censura http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/09/06/panmela/ http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/09/06/panmela/#respond Thu, 06 Sep 2018 07:00:27 +0000 http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/?p=18

No ano passado, um pastor-vereador se incomodou com um grafitti da artista internacionalmente reconhecida e minha amiga Panmela Castro  porque ele e unzomi lá acharam muito ofensivo ter uma “genitália gigante” (sic) em um muro tombado. A obra fazia parte da Frestas – Trienal de Artes de Sorocaba. Ele tanto causou que apagaram a maravilhosidade, que tinha sido pintada num prédio tombado e foi assunto até de uma sessão extraordinária da câmara de vereadores, que seria cômica se não fosse tragipatética. É muita misoginia, é muito medo de buceta, é muito conservadorismo, muita ignorância.

Mas também era meio engraçado, confesso. A tal sessão era composta apenas por homens repetindo que era uma afronta às mulheres sorocabanas, um disparate, uma pseudoarte. “Mostrei pra mais de vinte homens! As mulheres estão muito ofendidas”. Ué?

Primeiro que  genitália não define gênero, mas nem entraria neste tipo de embate com um homem que é capaz de se ofender quando enxerga uma vagina em uma pintura. O mundo é cheio de falos, desde esculturas até expressões, e é ok. Mas é claro que esse falo também jamais poderia estar associado a uma mulher, ou o mundo cairia. Porém o símbolo fálico, ah, ele está por todos os lados da nossa cultura e de outras. Mas uma vagina ofende, a vagina, oh, este buraco misterioso e tão despudorado que deu passagem a todos nós. Fico imaginando a consternação do pastor-vereador diante da pintura A Origem do Mundo, de Gustave Courbet. Seria aberta uma sessão extraordinária para removê-la do Museu D’Orsay, em Paris? Ou será quando uma vulva é retratada por um homem não tem problema? Afinal, não dá nem pra contar a infinidade de corpos femininos nus pintados por artistas homens. Mas, nossa, uma flor que remete a uma vagina ofende, é grotesco, é horrível.

Mas não somos de arregar e arquitetamos uma resposta, que aconteceu no último sábado, na a7ma Galeria: Panmela eternizou em mim o grafitti censurado. Agora eu tenho uma belíssima tatuagem na minha barriga.

Que conste que a artista já grafitou mais de 30 cidades mundo afora e jamais tinha deparado com uma vergonha institucionalizada dessas. É descarada a misoginia e a ojeriza que esses homens têm a tudo que consideram feminino. Azar o deles. Que tenham pesadelos com vaginas dentadas gigantes, que tenham pesadelos com a destruição das normas de gênero e que o pesadelo deles um dia se torne verdade.

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Vamos parar de fingir orgasmo? http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/08/29/vamos-parar-de-fingir-orgasmo/ http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/2018/08/29/vamos-parar-de-fingir-orgasmo/#respond Wed, 29 Aug 2018 19:35:34 +0000 http://claraaverbuck.blogosfera.uol.com.br/?p=10

Está cheio de pesquisas aí mostrando que as mulheres atingem mais orgasmos sozinhas. Mais de 70% das mulheres nunca gozaram com os parceiros. Não, eu não estou inventando.  Busca aí  “Edward Lauman – Universidade de Chicago”: o estudo dele concluiu que apenas 29% das mulheres se dizem capazes de atingir o orgasmo com seus parceiros. Pois é.

E por que todo homem que a gente conhece se acha foda na cama? Sério, amigas: o mais parvo dos homens, incapaz de sentir seu corpo ou de perceber se você está gostando ou não, pode ser que ele esteja se achando um deus na cama porque ninguém nunca avisou que não era por aí e os gemidos de pornô o fizeram crer que estava arrasando.

Pra que fingir? Faz mal pra nós – é pra gozar, não pra fingir, né? A gente já tem que fingir que gosta da vizinha, do tio nas festas de família, de parentes e agregados… Fingir algo que deveria nos fazer revirar os olhos e arrepiar de ponta a ponta serve pra quem?

Ruim pra nós: fingir não vai ajudar a descobrir o que te faz gozar.
Ruim para as próximas mulheres: talvez escutem que o problema é apenas com elas, já que as outras iam à loucura.
Ruim pra eles: acham que está uma trepada de outro mundo enquanto você só quer ir pra sua casa dormir.

Esse mesmo estudo revela que 61% das mulheres conseguem gozar se masturbando. Quer dizer, elas sabem o que gostam e conhecem minimamente seus corpos. Como, então, só 29% das mulheres se dizem realmente capazes de atingir o orgasmo com seus parceiros? Tem algo errado nessa conta.

Santa ou puta?

Ainda existe a triste dicotomia santa e puta, a mulher pacasá e mulher pacumê. As exceções confirmam a regra e a maioria dos homens cobra de si mesmo um desempenho que, muitas vezes, é só uma fantasia performática que na realidade não está agradando ninguém. Isso, aliado ao desinteresse pelo prazer real da parceira (ficar perguntando de 5 em 5 minutos “já gozou” não é interesse, ok?) e ao desconhecimento acerca do corpo da mulher (isso também tem a ver com interesse), bom, não tem como dar muito certo, né? É a equação do fracasso.

Do nosso lado: somos criadas para agradar. Agradar na vida, no trabalho, agradar no almoço de família e, é claro, na cama. Somos ensinadas a servir, a pensar no outro e nunca em nós. Sexo já é, em si, um tabu cheio de pequenos tabuzinhos embutidos. Por exemplo, sabemos que às vezes o sexo está uma delícia e o gozo não vem, mas, pra manter o teatro da expectativa, rola aquela fingida. Que pode acontecer também quando queremos logo que acabe (nesse caso eu sou a favor de parar logo mesmo, mas essa sou eu). Pode ter a ver com a preguiça que dá de explicar o primeiro item, pode ter a ver com vergonha de não conseguir gozar (ver pesquisas), com o medo de que ele ache que você não “consegue relaxar”, conforme dizia aquela música dos anos 80, onde Bete era frígida e precisava ter calma, aliás, uó.

Pode ser mil coisas.

Pode até ser que algumas mulheres finjam pra tentar se convencer de que está bom. Ou que estejam simplesmente acostumadas e nem saibam mais por que fingem. Apenas fingem.

E a voltamos à questão do começo: vamos parar? Que tal você, detentora (ou detentor, né) de uma vagina, aprender o que te faz gozar? Se a gente não souber, como outra pessoa vai saber? Conheça-te a ti mesmo, já disse aquele filósofo, e conhecerás as alegrias do gozo.  Ok, ele não disse exatamente isso. Mas eu estou dizendo, pode confiar.

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