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Top ou cadela? Nenhuma mulher está livre do machismo

Clara Averbuck

25/09/2018 04h00

"E pras feministas, ração na tigela/As mina de direita são as top, as mais bela/Enquanto as esquerda tem mais pelo que as cadela"

Essa foi uma musiquinha entoada em uma manifestação pró aquele-candidato-cujo-nome-não-citarei. Usando "Baile de Favela" como referência. Queria que  fosse, mas não é fake news. E também não é "polêmica". Polêmica é se o feijão deve vir por cima ou por baixo do arroz (por cima, evidentemente). Se é biscoito ou bolacha. Discurso misógino e machista não é polêmica, é ódio fantasiado do humor mais raso, mais babaca e também mais fácil.

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E antes que alguma mulher, alguma leitora, ache que pode concordar com isso, pense duas vezes. Como disse a jornalista e minha amiga Milly Lacombe, o produto mais bem acabado do patriarcado é a mulher machista. E o machismo não tem alvos ideológicos. Se você é mulher, seja sua posição política qual for,  já é atingida por ele.

Não existe mulher perfeita

Nenhuma mulher está livre de julgamento. Nem a mais bela, recatada e do lar. Nem a "cinderela". Um passo fora do cercadinho traçado e você já está desclassificada e desqualificada. Esse lugar, o da mulher perfeita, é uma falácia, posto que a mulher perfeita não existe; nunca vai estar bom. Essa "mulher perfeita" é uma boneca, alguém que não confronta, não pensa por si e apenas concorda. Não pode ser feminista, imagina, porque só por deus uma mulher que luta por direitos e enxerga as armadilhas do patriarcado. Não pode estar fora do padrão de beleza, não pode engordar, não pode, não pode, não pode falar se não for pra concordar. Caso se destaque demais na área em que trabalha, se trabalhar, porque a mulher perfeita também é cheia de privilégios como o de poder escolher ficar em casa sendo bancada, não pode ser assertiva, não pode ser combativa, tem que ser doce, sempre doce, sempre dócil.

Nada errado em ser dócil – quando não é um reflexo da opressão em forma de silêncio. Quando não é algo que exigem de você para que seu comportamento seja o aceitável e adequado, em detrimento ao das "feministas raivosas". É claro que estamos com raiva. Falam em nos humilhar, nos matar, nos estuprar. Antes só falassem. E não estamos nos referindo apenas a feministas, viu? Quem ainda não percebeu que a mulher dentro dos padrões esperados de comportamento sofre violência e ainda é culpada por ela? Quantos feminicídios ditos "crimes passionais", quantas mortes porque um homem com sua masculinidade violenta ferida "não aceitou o fim do relacionamento"? Quanta violência psicológica e verbal, quanta opressão patriarcal?

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Bolsonaro representa tudo isso. Ele claramente odeia mulheres. E o maior perigo, caso eleito, talvez não more nem nas políticas implementadas, posto que é deputado há 27 anos e aprovou apenas dois projetos inexpressivos de lei, mas no fato dele ser a personificação da misoginia e da homofobia, assim como do racismo e da transfobia, do discurso totalitário e assassino. Se tê-lo como figura política já encoraja indivíduos cheios de ódio a transformar seu discurso em prática, imaginem o que acontecerá se tivermos um presidente que transpira esse ódio, exalta torturadores e propaga violência em suas falas e ações.

Por isso que: ele não. Ele nunca. E dia 29, todas nas ruas.

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Sobre a autora

Clara Averbuck escreve desde sempre e começou a publicar na saudosa internet discada. É uma das pioneiras da blogosfera brasileira e tem sete livros publicados e adaptados para cinema e teatro. Já escreveu na Showbizz, Superinteressante, TPM, Claudia e muitas outras, foi colunista de jornais e revistas Brasil afora, tem gato, cachorro e filha adolescente, bebe e gosta, usa unhas de acrílico, é uma apaixonada praticante de pole dance e acredita que o corpo é uma festa. Dá aulas de escrita criativa e sabe que escrever é a perdição e a salvação.Eparrei!

Sobre o blog

Divagações e conjecturações sobre comportamento, sociedade, mídia, o universo e tudo mais.

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