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Blog Clara Averbuck

Vamos parar de fingir orgasmo?

Clara Averbuck

29/08/2018 16h35

Está cheio de pesquisas aí mostrando que as mulheres atingem mais orgasmos sozinhas. Mais de 70% das mulheres nunca gozaram com os parceiros. Não, eu não estou inventando.  Busca aí  "Edward Lauman – Universidade de Chicago": o estudo dele concluiu que apenas 29% das mulheres se dizem capazes de atingir o orgasmo com seus parceiros. Pois é.

E por que todo homem que a gente conhece se acha foda na cama? Sério, amigas: o mais parvo dos homens, incapaz de sentir seu corpo ou de perceber se você está gostando ou não, pode ser que ele esteja se achando um deus na cama porque ninguém nunca avisou que não era por aí e os gemidos de pornô o fizeram crer que estava arrasando.

Pra que fingir? Faz mal pra nós – é pra gozar, não pra fingir, né? A gente já tem que fingir que gosta da vizinha, do tio nas festas de família, de parentes e agregados… Fingir algo que deveria nos fazer revirar os olhos e arrepiar de ponta a ponta serve pra quem?

Ruim pra nós: fingir não vai ajudar a descobrir o que te faz gozar.
Ruim para as próximas mulheres: talvez escutem que o problema é apenas com elas, já que as outras iam à loucura.
Ruim pra eles: acham que está uma trepada de outro mundo enquanto você só quer ir pra sua casa dormir.

Esse mesmo estudo revela que 61% das mulheres conseguem gozar se masturbando. Quer dizer, elas sabem o que gostam e conhecem minimamente seus corpos. Como, então, só 29% das mulheres se dizem realmente capazes de atingir o orgasmo com seus parceiros? Tem algo errado nessa conta.

Santa ou puta?

Ainda existe a triste dicotomia santa e puta, a mulher pacasá e mulher pacumê. As exceções confirmam a regra e a maioria dos homens cobra de si mesmo um desempenho que, muitas vezes, é só uma fantasia performática que na realidade não está agradando ninguém. Isso, aliado ao desinteresse pelo prazer real da parceira (ficar perguntando de 5 em 5 minutos "já gozou" não é interesse, ok?) e ao desconhecimento acerca do corpo da mulher (isso também tem a ver com interesse), bom, não tem como dar muito certo, né? É a equação do fracasso.

Do nosso lado: somos criadas para agradar. Agradar na vida, no trabalho, agradar no almoço de família e, é claro, na cama. Somos ensinadas a servir, a pensar no outro e nunca em nós. Sexo já é, em si, um tabu cheio de pequenos tabuzinhos embutidos. Por exemplo, sabemos que às vezes o sexo está uma delícia e o gozo não vem, mas, pra manter o teatro da expectativa, rola aquela fingida. Que pode acontecer também quando queremos logo que acabe (nesse caso eu sou a favor de parar logo mesmo, mas essa sou eu). Pode ter a ver com a preguiça que dá de explicar o primeiro item, pode ter a ver com vergonha de não conseguir gozar (ver pesquisas), com o medo de que ele ache que você não "consegue relaxar", conforme dizia aquela música dos anos 80, onde Bete era frígida e precisava ter calma, aliás, uó.

Pode ser mil coisas.

Pode até ser que algumas mulheres finjam pra tentar se convencer de que está bom. Ou que estejam simplesmente acostumadas e nem saibam mais por que fingem. Apenas fingem.

E a voltamos à questão do começo: vamos parar? Que tal você, detentora (ou detentor, né) de uma vagina, aprender o que te faz gozar? Se a gente não souber, como outra pessoa vai saber? Conheça-te a ti mesmo, já disse aquele filósofo, e conhecerás as alegrias do gozo.  Ok, ele não disse exatamente isso. Mas eu estou dizendo, pode confiar.

Sobre a autora

Clara Averbuck escreve desde sempre e começou a publicar na saudosa internet discada. É uma das pioneiras da blogosfera brasileira e tem sete livros publicados e adaptados para cinema e teatro. Já escreveu na Showbizz, Superinteressante, TPM, Claudia e muitas outras, foi colunista de jornais e revistas Brasil afora, tem gato, cachorro e filha adolescente, bebe e gosta, usa unhas de acrílico, é uma apaixonada praticante de pole dance e acredita que o corpo é uma festa. Dá aulas de escrita criativa e sabe que escrever é a perdição e a salvação.Eparrei!

Sobre o blog

Divagações e conjecturações sobre comportamento, sociedade, mídia, o universo e tudo mais.

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