Como Bolsonaro virou o avatar do ódio
Não param de pipocar notícias e relatos de violências cometidas em nome daquele candidato que faz arminha com os dedos e incita seu eleitorado a "metralhar" os oponentes.
Um, dois, três. Dezenas. Quiçá centenas. Chegando cada vez mais perto. Uma travesti foi assassinada ao lado da casa de uma das minhas melhores amigas aos gritos de "Bolsonaro". Inúmeros, eu disse inúmeros relatos de mulheres e casais gays ouvindo na rua que "quando o mito for eleito isso vai acabar". Ontem uma amiga foi agredida verbalmente no trânsito por um taxista que afirmou que agora, com Bolsonaro, as mulheres vão voltar pra cozinha. Uma menina teve seu corpo marcado com uma suástica porque usava um adesivo "ele não" – e desistiu da denúncia, possivelmente por medo, e ainda teve que lidar com um delegado disse que não, não era uma suástica, era um símbolo budista de paz e amor, porque é claro que isso faz muito sentido. Meu pai de santo, o Babalorixá Rodney de Oxóssi, vestido em seus trajes de Babalorixá, teve que lidar com um desses sujeitos gritando o nome daquele capitão paraquedista tal qual uma ameaça enquanto simplesmente andava na rua.
O próprio nome virou uma ameaça.
Quando uma dessas pessoas se sente na liberdade e no direito de enfiar a cabeça pra fora de um carro e gritar o nome de seu candidato que incita ódio contra as minorias, é uma ameaça.
"O Bolsonaro vai acabar com isso" não significa que ele, pessoalmente, vai agredir cada uma dessas pessoas, cada grupo ameaçado, cada casal que sai de mãos dadas exercendo nada além de seu direito de existir. Significa que seus soldadinhos manipulados por notícias falsas e pagas espalhadas pelo whatsapp já estão a postos para fazer o que bem entenderem em nome dele.
Em nome dele.
Não é o Bolsonaro que vai fazer. É quem já carregava esse ódio e agora se sente livre para torná-lo violência real. Para matar. Espancar. Agredir.
Em nome dele.
Que diz não ter nada a ver com a violência que seus eleitores fanáticos cometem. O que ele poderia fazer, não é mesmo? Diz que lamenta, mas culpa "o outro lado". O que eu tenho a ver, pergunta ele?
Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre, ele disse. Em público. Sem constrangimento. Mas não tem nada a ver com a violência, é claro. A culpa é sempre dos outros.
Discurso de ódio vira ação. E ação é violência verbal e física, sangue, morte, horror.
Bolsonaro, tal qual o "heroi" do jogo em que seu personagem mata gays, negros e feministas, virou o avatar do ódio de quem já não tolerava os avanços das ditas minorias, que ele afirma também jamais ter atacado.
Bom, eis as palavras dele:
Como se isso não bastasse,
como se discurso de ódio não fosse o suficiente,
como se mentir descaradamente não fosse o suficiente,
como se homenagear um torturador não fosse o suficiente,
como se 28 anos como deputado ineficiente não fosse o suficiente,
agora temos a confirmação do que já se especulava: a campanha de Bolsonaro repleta de mentiras, as fake news que ele tanto diz serem as verdades comprovadas contra ele. Bancada por empresas, o foco era disparar mensagens contra Haddad e seu partido, espalhando a desinformação e manipulando os eleitores.
Jair Bolsonaro está tirando com a minha cara, com a sua, com a da democracia, com as leis que ele tanto diz que precisam ser seguidas e, principalmente, com os próprios eleitores desavisados. É esse o cara que vai "limpar" o país? É esse o cara que repudia corrupção? Não há posicionamento político esclarecido, não há anti petismo hidrofóbico que justifique o voto nesse homem.
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