Não basta estar no padrão de beleza, também tem que se comportar
Minha mãe dizia: "não seja como as outras". Demorei pra entender isso. Quando eu era jovem, personalizava e personificava isso em outras mulheres. Tinha poucas amigas. Queria andar com os meninos. Depois, entendi: não era sobre "as outras", era sobre um modelo de comportamento pré concebido e que todas as mulheres deveriam seguir.
Se comportar.
Falar baixo.
Recato. Modos.
Olha os modos! Quantas vezes não ouvi isso?
Eu não tinha modos.
Quando eu era jovem, achava que estava completamente fora do padrão de beleza – e era o que eu ouvia. Não tinha traços delicados, não tinha a magreza esperada do padrão dos anos 90 (lembrando que o auge era o "heroin chic", rótulo que hoje parece uma piada de mau gosto), não era loirinha, não era o que via nas propagandas, nos filmes, na tv, em todos os lugares. Hoje eu entendo que nossa, eu estou dentro sim, mas a pressão estética, que é ainda pior no Rio Grande do Sul, minha terra, onde cresci e aprendi que era inadequada, não me permitia ver isso.
O simples fato de ser bocuda já me fazia inadequada.
E, com o passar do tempo, fui entendendo que era muito mais sobre padrão de comportamento do que padrão de beleza.
Simplesmente porque nunca está bom se você é uma mulher.
Se está fora do padrão de beleza, vão atacar sua aparência, independentemente do que diga.
Se estiver no padrão de beleza, mas fora do padrão de comportamento, vão atacar qualquer coisa que diga ou faça usando sua vida sexual, sua "falta de modos", enfim, qualquer coisa.
Se estiver dentro de ambos, vão cobrar que tenha a paciência de uma professora do primário e seja só sorrisos e doçura.
Nunca vai estar bom.
Então, mulher: relaxa. Não dá pra viver em função de agradar esse mundo impossível.
Não deixe de falar o que pensa por medo de represálias ou de chacota.
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